Wednesday 25 February 2009

"Final Cut"


Filme “Final Cut”, de Omar Naim.


Relativamente à afirmação “Pegas na vida das pessoas e fazes delas mentira”, feita no filme “Final Cut” devemos dizer que a mesma se refere ao facto de estarmos perante uma pessoa, cuja profissão é a de montar uma sequência de informação audiovisual contida na memória de um individuo. No entanto esta sequência é propositadamente seleccionada pelo editor para que quem veja, relembre o seu ente já falecido da melhor maneira. Assim a questão que se levanta é a de que essa montagem faça com que a vida das pessoas não passe de uma simulação, uma sequência de momentos bons destinados àqueles que ficam para recordar. A vida tornar-se-á uma simples mentira, uma vez que a montagem é apenas um resumo favorável daquilo que o indivíduo viveu.

Se pensarmos na possibilidade de hoje existir uma profissão como esta, acreditamos plenamente não ser possível. No entanto, existem realidades que se aproximam da mesma. A título de exemplo, podemos remeter para os filmes que são passados no final de alguns casamentos, onde mostram, através de uma montagem, uma sequência de momentos felizes da relação, dados por fotografias ou pequenas gravações que captam o casal. Ora esta selecção pode acabar por ser também ela, uma farsa da vida desse mesmo casal.

No filme “Final Cut”, uma criança que tinha sido molestada pelo seu próprio pai, vê a vida deste editada num filme que iria ser apresentado no dia do seu funeral. Temendo que as más acções do seu pai venham revelar-se, a criança pede ao editor que altere o filme de modo a que não seja desvendado o segredo.
“Are you going to fix what my dad can remember?”, foram as suas palavras.

Nesta questão enfrentamos o cerne deste filme, até que ponto será benéfico ou não a produção destes filmes. Será que depois de ser editada a nossa vida perde o seu sentido? O facto de ocultar aquilo que fizemos de mal torna-nos assim uma boa pessoa? A nosso ver não. A nossa vida é tudo aquilo que fazemos, tudo aquilo por que passámos, quer seja bom ou não. Com o avanço das novas tecnologias não nos parece impossível que mais tarde isto venha a ser possível, mas será que está o ser humano preparado para todo este desenvolvimento?

Uma terceira e última questão, “Se não estiver nos media será nos lembramos que lá está?” remete-nos para a importância destes na nossa sociedade. Sabemos que tudo é comunicação, que é impossível não comunicar e os media têm assim o papel fulcral nesta questão.

A verdade é que os media não são só a voz do povo como também os seus ouvidos, querendo com isto dizer que os media têm assim o papel de fazer ouvir a sociedade e de a informar sobre tudo o que está à sua volta.

Um tema só é notícia quando divulgado pelos órgãos de Comunicação Social, caso contrário será algo desconhecido para nós, algo sem qualquer relevância.